Alguns setores
militares estão convencidos de que o verdadeiro objetivo da Comissão Nacional
da Verdade é provocar a revisão da Lei da Anistia de 1979, abrindo caminho para
o julgamento de agentes de Estado envolvidos em casos de violações de direitos
humanos no período do regime autoritário. A constatação é do cientista político
Eliézer Rizzo de Oliveira, especialista em assuntos militares e ex-diretor do
Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp.
Ontem, ao
participar de uma mesa-redonda sobre Comissão da Verdade, no 6.º Encontro
Nacional da Associação Brasileira de Estudos da Defesa, em São Paulo, Oliveira
observou que a inquietação dos militares aumenta. "Em algum sentido eles
têm razão", disse. "Há sinais que jogam luz nesse receio, como os
processos movidos contra militares pelo Ministério Público Federal e a
existência de uma tensão no interior do governo."
Segundo o
analista, no governo da presidente Dilma Rousseff existem setores empenhados na
defesa da revisão dos termos da anistia. "No governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva esse movimento era feito pelos ministros Tarso Genro, da
Justiça, e Paulo Vannuchi, de Direitos Humanos", afirmou. "O Tarso
foi substituído pelo Cardozo (ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça), que
não fala sobre isso, mas tem o ministério plenamente envolvido com a
questão."
Oliveira mencionou
particularmente o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão: "Ele disse
em palestra em São Paulo que a Comissão da Verdade não veio para botar uma
pedra em cima da história e que, muito ao contrário, ela poderá gerar novos
efeitos."
Também
participaram da mesa José Gregori, que foi ministro de Direitos Humanos no
governo de Fernando Henrique Cardoso, e Roberto Romano, professor de ética da
Unicamp. Um terceiro convidado, José Genoino, assessor do ministro da Defesa,
Celso Amorim, não compareceu. Ex-presidente do PT, ele é um dos principais
acusados no processo batizado de "mensalão", que está sendo julgado
no Supremo Tribunal Federal (STF).