O pedido que virou sentença de morte !
Angelo Pezzuti |
Em depoimento de 1969,
Angelo Pezzuti, líder do grupo de esquerda Colina, confirma que escreveu
bilhete solicitando ajuda a Dilma para fugir da prisão. Tempos depois, ela
sofreria nos porões da ditadura em Minas Gerais.
Documentos
guardados no Arquivo Nacional revelam a existência de um dossiê produzido pelo
regime militar contra Angelo Pezzuti, principal líder do Comando de Libertação
Nacional (Colina), conhecido também com os codinomes Gabriel e Cabral. A
compilação de informações intitulada As difamações de Angelo Pezzuti e presos
da Penitenciária de Linhares revela que o líder do Colina foi confrontado com
cópias de bilhetes interceptados pela repressão que culminaram nas torturas
sofridas por Dilma Rousseff em Juiz de Fora (MG), como revelou o Correio/Estado
de Minas, com exclusividade, em 17 e 18 de junho.
Em
um dos depoimentos reunidos no documento da Divisão de Segurança e Informação
do Ministério da Justiça, Pezzuti confirma que escreveu bilhete pedindo a Dilma
ajuda para fugir da prisão. De acordo com o relato, datado de 12 de maio de
1969, Pezzuti contou com o auxílio de um outro preso, a quem ofereceu a
contratação de um advogado e dinheiro, para o colega de confinamento repassar
recados a Dilma e a Oroslinda Goulart, conhecida como Mônica.
Dilma Vana Roussef |
Num
dos bilhetes, Pezzuti teria pedido que Dilma e Oroslinda providenciassem
carros, armas e dinheiro para a fuga dele. "O declarante escreveu então
vários bilhetes para serem entregues a seu pai, à doutora Maria Toffani, a Dilma
Vana Rousseff (Estela) e a Oroslinda Goulart (Mônica), que nesses bilhetes
lembra-se ter pedido a seu pai para arranjar advogados e dinheiro para o preso,
que à doutora Maria Tofani pediu para arranjar remédios, pois encontrava-se com
amigdalite, e a Dilma Vana Rousseff e Oroslinda Goulart pediu para ajudá-lo num
projeto de fuga, arranjando-lhe carros, armas e dinheiro, que reconhece as
cópias dos bilhetes apresentados nesse momento", traz o relatório
policial, com assinatura identificada como sendo a de Pezzuti. A mensagem nunca
chegou às mãos de nenhuma das duas militantes políticas, sendo interceptada
pelos agentes da repressão.A
compilação da Divisão de Segurança e Informação ganhou o título de "as
difamações" porque, além dos depoimentos dos integrantes do Colina, traz
também as denúncias de torturas sofridas pelos declarantes. A reunião do
material policial, apresentado como auditoria, e os relatos de agressão deixam
claro que o detalhamento das ações do grupo e apontamento de colegas da
organização f oram conseguido por meio de tortura. Os integrantes da organização
denunciam agressões com choques elétricos no ânus e pancadas desferidas com
remo curto.
Angelo Pezzuti assassinado |
Os nomes dos torturadores também estão registrado no dossiê:
"Thacir Menezes Sia, Ariosvaldo Hora, Scoralick, José do Carmo, Joel, Cabo
Ferreira, Márcio, José Aparecido, Anésio, Geraldo, Vander, Bicalho. Os
primeiros interrogatórios do inquérito foram levados a efeito, no Departamento
de Roubos e Furtos de Belo Horizonte. Foram dirigidos por Luiz Soares da Rocha,
chefe da Polícia do estado. Sob seu comando e de dois delegados, Lara Rezende e
Márcio Cândido da Rocha, os prisioneiros foram barbaramente torturados".
Comando
urbano
A interceptação dos bilhetes assim como o plano de fuga, que continha o croqui
das dependências da Penitenciária Magalhães Pinto, onde estava preso quando
escreveu a Dilma, fez com que os interrogadores dedicassem mais atenção às
menções do nome da ex-militante, atual presidente do país. O líder do Colina
relata que Dilma era sua "conhecida" e costumava visitar sua casa, no
"Edifício Solar". No dossiê contra Pezzuti, outros presos por fazer
parter do Colina chegam a ser interpelados diretamente sobre a atuação de
"Estela" e Cláudio Galeno Linhares, marido de Dilma na época. Os
depoentes informam que, entre os participantes da organização, o casal também
era conhecido como "Santos e Mariza".
Cláudio Galeno Linhares |
Dilma
ganhou importância no monitoramento dos militares quando emprestou a casa, em
julho de 1968, para reunião que determinou a criação de uma direção nacional
para o Colina. Até então, ela compunha célula do movimento estudantil,
organização menor, sem poder de decisão, uma espécie de núcleo de base. Após a
criação da direção nacional, o Colina se organizou nos setores de levantamento,
inteligência, sabotagem, expropriação e comando urbano.
O
dossiê contra Pezzuti também traz depoimento de Jorge Raimundo Nahas, atual
secretário municipal de Políticas Sociais de Belo Horizonte, que relata a
ascensão de Dilma na hierarquia do Colina, subindo de integrante de célula para
o comando urbano. "A coordenação das células passou a ser formalizada e
executada pelo comando urbano, que tinha poder de decisão sobre as células que
não pertenciam aos setores militares. O declarante afirma que Dilma Vana Rousseff
e Hebert Eustáquio de Avelar (Olímpio), por serem militantes considerados muito
bons, tenham passado a pertencer ao comando urbano."
Fonte
- Correio Braziliense
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